CONTO POLICIAL
ESCRIVÃO BOQUIRROTO
No inicio da década de 80, passávamos por uma transição entre a ditadura militar e a democracia, tanto que fora permitido a escolha, através do sufrágio universal, de governador de estado.
Na onda da democratização, havia na Polícia Civil do estado do Pará, um escrivão de rara inteligência que criticava e satirizava seus superiores, para espanto dos policiais menos esclarecidos, achando não ser o mesmo punido ou perseguido por ser “doido”.
Esse escrivão de grandes recordações, fazia parte do rol de amizade de meu sengo e saudoso pai, assessorava, fazia defesa de estágio probatório, sindicância e processos administrativos de policiais de todas as categorias, saindo sempre vitorioso em mais de 90% dos procedimentos que agilizava, ou seja, era um autodidata.
Com a fama adquirida conforme o apresentado acima passou a ser odiado por alguns e admirado por muitos, dado sua intrepidez. Tanto que vários policiais começaram a ficar na sua ilharga, fazendo-lhe companhia em reuniões de classe, na formulação de ofícios reivindicatórios e etc.
Para compensar essa fidelidade funcional, o magistral escrivão, passou a indicar aos policiais, um neófito escrivão, de grande cabeça, universitário de direito, recém saído da Aeronáutica de onde fora cabo temporário, para fazer-lhe, defesa em PAD, pois, não dava conta o saudoso escrivão da demanda que tinha prazo para ser entregue, sem haver prorrogação.
Certo dia, aquele pulcro escrivão juntamente com o neófito, dirigiram-se a uma seccional de Polícia Civil, aliás, a primeira do estado, para entregarem as defesas de um EPC e de uma agente administrativa que respondiam PAD.
Ao chegarem na referida seccional, foram recebidos por dois delegados, sendo que um deles já falecera, ambos integrantes da comissão do PAD. Feita as formalidades com o documento de defesa entregue, passaram a confabular amenidades, eis que um dos delegados exclamou: “Vocês souberam o que o “sargentão” está aprontando”? Sargentão foi uma sátira concebida pelo corajoso escrivão, com o secretário de segurança pública no governo do saudoso Hélio Gueiros, que era coronel da Polícia Militar do Estado.
Curioso, o escrivão neófito quis saber o que o “sargentão” aprontara, tendo o delegado dito: “Que o mesmo viajara para o município de Barcarena, com várias delegadas a tira colo, e na praia do Caripí, em meio as rodadas de cervejas e peixe frito, colocarás como chefes em diversos pontos estratégicos da Policia Civil”.
O delegado que expunha o fato, o fazia com ar insinuante alem do sorriso maroto, e mesmo assim, pedira segredo daquela conversa, para que não fosse perseguido pelo sargentão ou as delegadas agora chefes.
No outro dia, após a entrega da defesa, o velho escrivão, que costumava a chegar para trabalhar lá pelo meio dia, fora direto a sala do coordenador geral da Polícia Civil – Delegado Geral atual, onde era lotado somente para assessorá-lo.
Despachando com o coordenador, fora surpreendido com a entrada abrupta na sala de um delegado na época, tido como a expressão máxima da valentia no combate a criminalidade, o qual, com dedo em riste apontou para o destemido escrivão e lhe disse: “ Vais engolir tudo que falaste da minha irmã agora seu escrivãozinho linguarudo”.
Perplexo e surpreso, o intrépido escrivão não tivera alternativa, a não ser pegar uma cadeira e colocando-a como escudo para defender-se da agressão em vista. O delegado furibundo fora segurado por outros policiais e pelo próprio coordenador, que se vestiu de macho e ameaçou prende-lo caso não se retirasse de seu gabinete.
Chamado pelo secretário “sargentão”, o coordenador fora colocado a par do que estava acontecendo, e nesse momento interfonou para que o velho escrivão dirigi-se até o gabinete do “sargentão” para melhores esclarecimentos, onde fora instado a prestar depoimento, onde logicamente, negara ter propagada aquele estória.
Inconformado com a negativa de o velho escrivão, sabendo de sua personalidade satírica, o “sargentão” recomendou que o mesmo estivesse no outro dia em seu gabinete, para ser acareado com a pessoa que disse ter sido ele o difamador das delegadas.
Com tino policial apurado, o velho escrivão, desconfiou que o propagador da estória, poderia ser o neófito escrivão, que ali botava para fora, toda a sua personalidade pérfida, não medindo conseqüências para agradar e demonstrar a seus chefes de que era bem informado e que podiam confiar na sua fidelidade administrativa. Esse neófito mau caráter, manteve intrínseco em sua personalidade, esse tipo de ação, mesmo após galgar o posto de delegado, fazendo inúmeras vítimas, entre elas uma delegada e um investigador, que por um certo tempo, acreditaram nesse canalha.
O velho escrivão tinha razão de sua desconfiança. Pois, fez vários telefonemas à residência e trabalho do boquirroto escrivão sem retorno, fazendo que o mesmo o campanasse na UFPA, onde o boquirroto era estudante. Surpreendido com a presença do velho escrivão no seu local de estudo, o boquirroto, tal como agiu mesmo delegado na frente de uma sargentona, ensaiou um pique, o que fora tarde, pois o velho escrivão, já se encostara ao mesmo, que conseguiu homiziasse no banheiro, temendo passar vergonha com o possível pito que o velho escrivão pudesse lhe dar. Entretanto, o velho escrivão, didaticamente, apenas o advertiu, de que se continuasse a usar seu nome e de forma mentirosa, o mesmo iria arrependesse-se, já que tinha pretensões futuras de ser delegado de Polícia, haja vista, que se sairia tranquilamente desse imbróglio por ter laudo constatando enfermidade psiquiátrica, além disso, tinha prestígio junto ao coordenador, e sabia como fazer para empurrar sobre suas costas toda a responsabilidade da estória, podendo até mesmo, vir a ser demitido. Era só ele duvidar.
Atônito, o boquirroto, não teve outra alternativa na acareação, que estava lotada de delegados e delegadas difamadas, e ali dissera, que nunca soube e nem citou o nome do velho escrivão, que chamava-se, FRANCISCO DE PAULA SOUZA VASCONCELOS, o saudoso Souza, com o inventador da estória, e sim, que teria ouvido a mesma, do seu chefe a época, onde era lotado, Divisão de Crimes Contra a Pessoa – DCCPe, a propagada estória. CANALHA! Foi esse adjetivo que os delegados presentes exclamaram ao ouvirem o depoimento do boquirroto. Adjetivo esse, que será eternizado no seu epitáfio: “AQUI JAZ UM CANALHA”. RIRIRIRIRIRIRIRI. KAKAKAKAK. HAHAHAHAHAH.